Mais do que uma data comemorativa, o Dia do Trabalho se torna um ponto de inflexão para o setor de tecnologia: é hora de repensar a relação com o trabalho, proteger a saúde dos profissionais e reconstruir uma cultura baseada em respeito, propósito e equilíbrio real.
O setor de tecnologia representa o coração pulsante da inovação global. É nele que se desenvolvem as soluções que conectam, automatizam, otimizam e transformam a sociedade. Mas é também um dos setores mais afetados por um fenômeno silencioso e perigoso: o adoecimento emocional e a perda de sentido no trabalho.
Neste 1º de Maio, o que precisamos não é apenas celebrar o trabalho, mas sim questioná-lo. Com coragem e empatia.
Por que estamos normalizando jornadas de 12 horas?
Por que muitos profissionais tech não conseguem se desconectar nem nos fins de semana?
Por que tantas lideranças ainda consideram vulnerabilidade uma fraqueza?
E o mais essencial: por que estamos trabalhando tanto sem saber exatamente por quê?
Entre performance e exaustão: o falso dilema do profissional tech
Em um ambiente de entregas constantes, metodologias ágeis, reuniões intermináveis e pressão por inovação contínua, o profissional de tecnologia acaba, muitas vezes, operando em modo sobrevivência. O preço? Burnout, ansiedade, insônia, isolamento social e perda do prazer pelo que faziam com paixão.
Estamos criando códigos incríveis — e apagando pessoas talentosas.
Segundo um estudo da GitHub em parceria com o Harvard Business Review, 82% dos desenvolvedores reportam exaustão regular, e 50% deles consideram mudar de área por falta de equilíbrio. Os dados não mentem: a produtividade sem limites virou uma armadilha.
RH e lideranças: como reverter essa lógica?
A mudança precisa começar pelas empresas. E especialmente pelo RH e pelas lideranças de tecnologia. Não basta mais focar apenas em metas e entregas. É preciso construir um ecossistema de trabalho saudável, onde resultado e bem-estar caminhem juntos.
DICAS PARA EMPRESAS DE TECNOLOGIA QUE QUEREM PROMOVER EQUILÍBRIO E PROPÓSITO NO TRABALHO:
1. Crie uma cultura de segurança psicológica
Profissionais precisam sentir que podem errar, pedir ajuda ou dizer “não” sem medo de punições. Segurança psicológica é base para inovação verdadeira.
Como fazer:
Estimule feedbacks horizontais;
Normalize pausas e erros como parte do processo criativo;
Capacite líderes para acolher vulnerabilidades com empatia.
2. Redesenhe a jornada de trabalho com flexibilidade real
Flexibilidade não é apenas home office. É permitir que o profissional organize sua rotina com autonomia e respeito à sua realidade.
Como fazer:
Implante modelos de horário flexível;
Respeite desconexão fora do expediente (sem mensagens urgentes à noite ou fins de semana);
Revise políticas de presença síncrona em reuniões.
3. Substitua metas inatingíveis por entregas sustentáveis
Metas agressivas corroem a saúde mental e não garantem qualidade. Sustentabilidade também se aplica à performance.
Como fazer:
Revise os OKRs com olhar humano e viável;
Celebre progresso, não só resultado final;
Estimule sprints com pausas reais entre as entregas.
4. Invista em saúde mental como estratégia de negócio
Não basta uma palestra por ano. Saúde mental precisa estar integrada à cultura e aos recursos da empresa.
Como fazer:
Ofereça psicoterapia como benefício contínuo;
Crie canais anônimos de escuta e apoio emocional;
Treine gestores para identificar sinais de esgotamento.
5. Reforce o propósito da empresa e como cada time contribui com ele
As pessoas se engajam quando sentem que o que fazem tem impacto real. Clareza de propósito reduz o turnover e aumenta a motivação.
Como fazer:
Reforce constantemente a missão da empresa com transparência;
Compartilhe histórias reais de usuários impactados;
Dê espaço para que os colaboradores co-criem soluções alinhadas com o propósito da marca.
E para os profissionais de tecnologia: como buscar propósito sem abrir mão de si?
Não é só a empresa que precisa se reposicionar. O profissional também pode — e deve — assumir o protagonismo da sua saúde e coerência de carreira.
DICAS PARA PROFISSIONAIS TECH QUE DESEJAM MAIS PROPÓSITO E MENOS EXAUSTÃO:
1. Pratique o autoconhecimento
Reflita sobre o que te move além da remuneração ou do status.
Pergunte-se:
“Por que escolhi essa carreira?”
“Qual impacto quero deixar?”
“O que me deixa leve, e o que me drena?”
2. Defina seus limites — e comunique-os
Não espere estar no limite para dizer que algo não está funcionando. Limites são proteção, não fraqueza.
3. Busque empresas com cultura alinhada aos seus valores
Mais do que olhar o salário ou o nome da marca, investigue como aquela empresa trata seus colaboradores, como lida com pressão e como se posiciona socialmente.
4. Cuide do corpo e da mente como parte da sua stack
Alimentação, sono, pausas e exercícios não são “detalhes” — são requisitos básicos para a sua performance e longevidade profissional.
1º de Maio: o começo de um novo contrato com o trabalho
Seja você C-level, dev, product owner ou analista de dados, a verdade é uma só: não podemos mais aceitar que adoecer seja o preço do sucesso. O 1º de Maio precisa ser o ponto de partida para um novo pacto: com a saúde, com o equilíbrio e com o verdadeiro propósito da tecnologia.
Afinal, o que adianta transformar o mundo se, no meio do caminho, perdemos a nós mesmos?
Conclusão: propósito, saúde e dignidade — esse é o futuro que vale codar
A inovação só faz sentido quando melhora a vida das pessoas — inclusive de quem a desenvolve. O Dia do Trabalho nos lembra que o valor do trabalho vai além das métricas. Ele está no respeito, no bem-estar e na capacidade de construir com intenção.
O trabalho pode, sim, ser motivo de orgulho. Mas só se ele for, antes de tudo, espaço de vida — e não de sobrevivência.
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