Candidaturas criadas por IA frequentemente não refletem o estilo de comunicação ou os padrões linguísticos que o candidato apresentará em uma conversa presencial ou online.
A inteligência artificial tem transformado inúmeros setores e, no mundo corporativo, seu impacto é cada vez mais claro, especialmente quando o assunto é recrutamento e seleção de talentos. No entanto, apesar das vantagens em automação, recrutadores estão cada vez mais relutantes em aceitar candidaturas geradas por IA. De acordo um estudo da CV Genius, a maioria dos recrutadores mostra resistência ao uso desta tecnologia por candidatos durante o processo seletivo. A pesquisa revela que 80% dos profissionais de recrutamento desaprovam currículos e cartas de apresentação gerados por algoritmos inteligentes, destacando a preferência por materiais mais autênticos e personalizados.
Os motivos para essa rejeição são muitos, mas um dos principais problemas é a tendência destes sistemas de criar resumos profissionais que carecem de personalidade. Embora o uso destas ferramentas para construir currículos ou cartas de apresentação possa agilizar processos e criar documentos tecnicamente bem elaborados, a falta de uma voz humana e a utilização de frases genéricas acabam por comprometer a impressão que o candidato passa.
Além disso, a falta de congruência entre o que está escrito e o comportamento do candidato durante a entrevista levanta sérias questões. Candidaturas criadas por IA frequentemente não refletem o estilo de comunicação ou os padrões linguísticos que o candidato apresentará em uma conversa presencial ou online. Esse descompasso acaba gerando dúvidas sobre a veracidade das informações e pode comprometer o processo.
Outro ponto importante é a preocupação com exageros ou informações falsas que podem ser incluídas sem que o candidato perceba. A inteligência artificial, quando programada inadequadamente, pode inventar ou embelezar conquistas e experiências. Essa prática, se descoberta durante uma entrevista, pode levantar questões sérias sobre a honestidade e integridade do profissional. Essa é uma das razões pelas quais recrutadores estão mais cautelosos com o uso da tecnologia neste contexto.
Contudo, isso não significa que a tecnologia deve ser totalmente descartada, uma vez que, quando usada de forma estratégica e ética, pode ser uma aliada poderosa, afinal, pode auxiliar candidatos na organização de suas ideias, otimizar seus currículos e garantir que todos os pontos importantes sejam cobertos. Mas o toque humano continua segue sendo essencial, tanto na elaboração de currículos quanto no processo de entrevista.
Portanto, é fundamental que os candidatos usem a IA com discernimento. É necessário revisitar o conteúdo gerado, ajustá-lo à sua realidade e garantir que haja uma harmonia entre a escrita e o comportamento na entrevista. O processo de recrutamento, afinal, é uma via de mão dupla: a tecnologia pode ajudar, mas a autenticidade e a verdade pessoal são insubstituíveis.
Marcello Amaro – CHRO da P3, uma plataforma de gestão de pagamentos para mais de 2000 empresas da América Latina.
