O mercado de trabalho está cada vez mais dinâmico e competitivo, e as empresas têm enfrentado desafios constantes para formar um time qualificado, capacitado e que acompanhe os avanços tecnológicos.
Uma análise realizada pela International Data Corporation (IDC) trouxe uma estimativa de crescimento de 13% neste ano sobre as tendências do setor de Tecnologia em 2025. Em continuidade ao progresso iniciado no ano passado — quando a TI B2B expandiu 9% no cenário brasileiro — enxergo, nesta crescente demanda, uma oportunidade para investimento em profissionais locais. Ao observar essa onda que poderá alavancar a área de Tecnologia, encontramos vantagens expressivas para ambos os lados: empresas em busca de profissionais preparados e talentos desperdiçados de maneira descentralizada.
Quando uma empresa decide investir em profissionais locais, uma série de benefícios pode ser captada de maneira estratégica. Um deles é a adaptação cultural – a vivência em determinados espaços proporciona melhor adaptabilidade, à medida que o ambiente organizacional exige valores e experiências semelhantes entre os colaboradores. Ao viabilizar oportunidades para pessoas situadas na própria região, o engajamento social se traduz em maior produtividade e, consequentemente, redução da rotatividade dentro da organização.
Outro ponto relevante é a redução de custos. Ao contratar talentos locais, além de agilizar a recolocação — sem prejudicar a equipe com sobrecarga em razão da ausência de um profissional —, custos adicionais com deslocamento podem ser evitados, seja no modelo presencial ou híbrido. Acredito, ainda, no enorme potencial do trabalho remoto como forma de valorizarmos talentos em todas as regiões do país.
A priorização de talentos locais, nesse sentido, permite reduzir possíveis fatores de desmotivação ou dificuldades de adaptação a uma rotina desgastante e prolongada. Uma empresa que aposta no fortalecimento da economia local é vista com mais admiração e conquista maior apoio da comunidade. Esse olhar atencioso pode gerar destaque competitivo e diferenciação mercadológica. Ao analisar dados do YouGov Global Profiles, observei uma estatística interessante: 60% dos consumidores brasileiros dizem se esforçar para apoiar empresas locais, número 1% acima da média internacional. Ter uma equipe local pode, portanto, fortalecer a imagem institucional da empresa e impulsioná-la por meio da identificação natural do público com a marca.
Ao investir na diversidade de perspectivas e pontos de vista que os talentos locais podem oferecer à cultura organizacional, a estratégia está em aproveitar o crescimento do setor de TI no Brasil. É necessário romper com padrões tradicionais ou ultrapassados sobre como deve ser feita uma seleção de candidatos, quais critérios devem ser atendidos, qual perfil se encaixa melhor na vaga, e como driblar os desafios de retenção frente à falta de qualificação.
Podemos explorar novas formas de colaboração e inovação a partir de novas abordagens e percepções, fortalecendo equipes com soluções criativas, adaptadas à realidade inclusiva que conecta empresa, colaboradores e comunidade.
Um ditado popular diz que a oportunidade não bate à nossa porta. Mas será que todas as pessoas conseguem chegar até a porta onde ela se encontra?
A verdade é que nem todos contam com recursos favoráveis na busca por um emprego. É exatamente aí que as empresas precisam repensar como o investimento local pode promover representatividade, igualdade e novos caminhos para quem não tem acesso aos centros onde se concentram as oportunidades.
Atuo como CRO da Escola da Nuvem, uma organização social sem fins lucrativos que promove a inserção socioeconômica de pessoas em vulnerabilidade social e grupos sub-representados no mercado de trabalho nacional. Por meio de cursos gratuitos online e presenciais, com foco em capacitação técnica e comportamental na área de computação em nuvem e outras tecnologias, acompanhamos os alunos até sua inserção profissional após a conclusão dos estudos.
Ao longo dos meus anos de experiência na área de Tecnologia e no relacionamento com organizações contratantes, tenho percebido que a decisão de contratação envolve uma análise de longo prazo, considerando:
natureza do trabalho,
urgência das necessidades do projeto,
orçamento disponível,
e cultura organizacional.
Essas variáveis formam o equilíbrio ideal entre custo inicial e retorno sustentável do investimento em talentos.
Vantagens como início agilizado pela proximidade, fortalecimento da marca empregadora, retenção de talentos locais, redução de custos com deslocamento e identificação dos colaboradores com a cultura da empresa refletem diretamente na entrega, performance e resultados — e até na receita.
Os desafios enfrentados pelas organizações para contratar pessoas capacitadas e treinadas podem ser superados a partir do momento em que se reconhece o potencial mais próximo do que se imagina.
Este pode ser o momento de fazermos justamente o inverso do que estamos acostumados:
Conectar empresas que precisam de mão de obra especializada a profissionais competentes, dedicados e preparados, que estão apenas esperando por sua primeira oportunidade.
Temos como solucionar a escassez de qualificação aproximando o olhar estratégico das empresas ao potencial dos talentos locais.
Empresas que compreenderem os benefícios da reciprocidade ao atrair e valorizar profissionais — além de evitar disputas concentradas nos grandes centros — estarão mais preparadas para os desafios do futuro.
Em um mundo onde diversidade, inovação, adaptação e sustentabilidade são essenciais para o sucesso, fortalecer comunidades e impulsionar a economia local pode ser o maior diferencial competitivo.
Ana Letícia Lucca – CRO da Escola da Nuvem
