Enquanto a inteligência artificial coleta seus dados e molda decisões, a verdadeira questão é: você está prestando atenção ou apenas sendo conduzido?
Por Alessandra Montini, diretora do LabData, da FIA
Sabe aquela propaganda de celular novo que te perseguiu por três dias depois de você comentar com um amigo que estava pensando em trocar o seu? Ou aquela playlist que misteriosamente entende seu humor melhor do que muita gente por aí? Pois é, isso não é coincidência — é a inteligência artificial fazendo o que ela faz de melhor: observar.
A IA te observa constantemente e incansavelmente. Ela aprende com seus hábitos, seus gostos, sua rotina, suas dúvidas existenciais no Google às 2h da manhã. Mas a pergunta que deveríamos estar fazendo não é “como ela sabe disso tudo?”, e sim: você sabe o que ela sabe? Melhor ainda: você está observando de volta?
Entre o deslize e o rastreio
Hoje, cada curtida, cada busca e cada clique alimenta sistemas invisíveis que trabalham 24/7 para prever suas próximas ações. E não pense que isso é exagero. De acordo com dados apresentados pelo Stocklytics.com, a inteligência artificial deverá se tornar uma indústria trilionária até 2031. E adivinha o que move essa engrenagem colossal? Dados. Os seus, os meus, os nossos.
A IA está nos aplicativos de banco que analisam seus gastos, no algoritmo de recrutamento que decide se seu currículo merece uma entrevista e até no sistema de monitoramento do supermercado que entende o fluxo de clientes antes mesmo de eles entrarem.
A gente entregou os dados. Agora, a pergunta é: quem está no controle?
A questão não é temer a IA como se fosse um vilão de ficção científica. O ponto é entender que toda tecnologia reflete as intenções de quem a cria. Se você não entende como ela opera, corre o risco de ser moldado por decisões automatizadas sem nem perceber.
Você já parou para pensar que as redes sociais que você consome moldam seu humor, sua opinião e até sua noção de realidade? E que tudo isso pode estar sendo guiado por linhas de código que aprenderam a te manter preso ali, rolando sem parar?
De espectador a agente
Observar a IA não é apenas sobre privacidade ou segurança digital. É sobre consciência. É entender que, enquanto a IA observa nossos comportamentos para “otimizar experiências”, nós também temos o direito — e a responsabilidade — de observar suas intenções, suas limitações e seus efeitos colaterais.
O problema não é a IA te observar. O problema é você não estar olhando de volta.
Isso vale para todos nós: consumidores, profissionais, líderes de negócios. Não dá mais para fingir que essa revolução é algo distante ou técnico demais para a gente se envolver. A IA já está moldando decisões políticas, padrões de consumo, relações de trabalho e até diagnósticos médicos. Se você ainda acha que isso não te afeta, talvez a IA saiba mais sobre sua vida do que você mesmo.
A IA está te observando. A pergunta é: você vai continuar ignorando ou vai começar a olhar de volta? Porque, no fim das contas, a tecnologia só tem poder quando a gente entrega o controle sem questionar — e talvez esteja mais do que na hora de reverter esse jogo.
