Relatório revela como a transformação tecnológica, a disputa por talentos digitais e a consolidação do trabalho híbrido estão remodelando estratégias de remuneração, produtividade e retenção nas empresas latino-americanas.
A América Latina entra em 2026 diante de uma reconfiguração profunda do mercado de trabalho. O MyDNA Guia Salarial 2026, um dos materiais mais completos de tendências, cargos e remunerações na região, revela um cenário em que tecnologia, bem-estar e flexibilidade passam a atuar como pilares inseparáveis da estratégia de Recursos Humanos.
Mais do que atualizar valores salariais, o estudo mostra que o trabalho latino-americano vive uma mudança estrutural, marcada por novas profissões impulsionadas pela Inteligência Artificial, uma disputa crescente por talentos híbridos e a consolidação do salário emocional como fator decisivo de retenção.
IA não elimina funções — ela redefine o valor estratégico do talento
Se antes a automação era vista como ameaça, o panorama atual é outro: a IA reconfigura profissões, cria novas carreiras e desloca o foco da execução para a capacidade humana de análise, criatividade e propósito.
Entre as funções emergentes destacadas pelo relatório estão:
Engenheiro de Prompt – agora essencial na interação entre humanos e IA generativa.
Especialista em Ética e Governança de IA – peça-chave em instituições financeiras, saúde e tecnologia.
Designer de Experiência com IA – responsável por humanizar a interação com sistemas inteligentes.
Especialista em Automação Inteligente (RPA + IA) – pilar da produtividade em logística, manufatura e serviços.
Analista de Dados focado em IA Generativa – capaz de ler o comportamento dos algoritmos e suportar decisões avançadas.
Ao mesmo tempo, cargos tradicionais vivem reinvenção inevitável. Assistentes administrativos, operadores de telemarketing e analistas de atendimento perdem espaço para chatbots e automações, enquanto contadores e redatores passam a atuar de forma mais estratégica, consultiva e criativa.
A mensagem central é clara:
A IA não substitui o profissional — substitui quem não aprende a trabalhar com ela.
Híbrido é o novo padrão latino-americano — mas cada país tem sua “cultura de flexibilização”
O modelo híbrido deixa de ser tendência para se tornar padrão regional, mas com grandes diferenças por país.
Chile é o líder absoluto, com 58% das empresas em regime híbrido, e quase um quarto já operando em modelos altamente flexíveis (3 a 4 dias remotos).
Brasil desponta em segundo, com 49,9% de adesão ao híbrido, especialmente nas grandes empresas.
México lidera o trabalho 100% remoto, embora ainda minoritário (9%).
Argentina e Uruguai permanecem como os países mais presenciais, mantendo 70% a 80% de presencialidade.
A variação revela que o debate não é mais sobre manter ou não o híbrido — e sim como desenhar modelos que maximizem produtividade e experiência do colaborador.
Enquanto mercados mais maduros migram para foco em resultados, empresas menos flexíveis ainda ancoram sua gestão no controle e na supervisão presencial.
Salário emocional deixa de ser complemento e se torna parte estrutural da remuneração
O guia mostra a consolidação do salário emocional como fator decisivo de retenção e engajamento — especialmente entre talentos digitais.
Os elementos mais valorizados são:
Flexibilidade real de horário e modelo de trabalho
Planos de saúde robustos e políticas de bem-estar
Reconhecimento público e liderança acessível
Programas de desenvolvimento e mentorias estruturadas
Semanas reduzidas ou dias extras de descanso
Benefícios financeiros variáveis (bônus, stock options, etc.)
A combinação entre salário, benefícios e valor emocional cria vínculos de longo prazo, impactando diretamente turnover, clima e produtividade.
Indústrias que puxam a valorização salarial em 2026
O relatório aponta aumentos médios por setor e revela onde estão os maiores saltos:
Tecnologia – aumento médio de 8%
Impulsionada por IA, cloud e cibersegurança, a área vive escassez estrutural de talentos. Profissionais com domínio de dados, produto e liderança digital são os mais valorizados.
Energia renovável – até 9% de aumento
A corrida por hidrogênio verde, solar e eólica cria demanda por engenheiros, especialistas regulatórios e gestores de transição energética.
Farmacêutica – 7% de aumento
Biotecnologia, pesquisa clínica e marketing científico puxam o setor.
Logística e e-commerce – 6% de aumento
Avanço de IA preditiva, automação de armazéns e logística verde gera supervalorização de analistas de operações e supply chain.
Automotivo – 6% de aumento
A eletrificação transforma a indústria, demandando novas competências em software, ESG e energia.
Brasil em 2026: retenção, escassez técnica e a consolidação do híbrido
O Brasil apresenta um cenário de estabilidade e crescimento moderado, com destaque para:
Forte valorização de cargos em tecnologia, engenharia e finanças.
Escassez de profissionais qualificados em áreas técnicas e digitais.
Consolidação do modelo híbrido, especialmente em grandes centros urbanos.
Recuo do trabalho 100% remoto em funções que dependem de colaboração presencial.
A pressão tributária sobre folha e a necessidade de programas de reskilling são desafios centrais para as empresas.
O que o guia revela ao RH para 2026
A análise do relatório evidencia quatro grandes movimentos que devem orientar as áreas de Recursos Humanos nos próximos meses:
1. A remuneração se torna holística
Salário base perde protagonismo para modelos híbridos de reconhecimento: bem-estar, desenvolvimento, flexibilidade e propósito.
2. IA exige requalificação imediata
Empresas que não investirem em formação contínua perderão competitividade na atração e retenção de talentos.
3. O híbrido precisa ser estratégico — não apenas logístico
Ambientes físicos devem ser redesenhados para colaboração e cultura; o remoto, para foco e autonomia.
4. Dados, ESG e tecnologia moldam o novo valor do talento
Competências analíticas, digitais e socioemocionais se tornam essenciais em todas as áreas.
Conclusão: RH precisa liderar a próxima década — não apenas acompanhar
O MyDNA Guia Salarial 2026 mostra que a América Latina não vive apenas um ajuste salarial: está diante de uma mudança de paradigma no trabalho.
A revolução atual é híbrida, emocional, digital e profundamente humana.
E o RH deixa definitivamente de ser suporte operacional para se tornar motor estratégico da competitividade organizacional.
