Cortes baseados em monitoramento digital levantam riscos legais, ações coletivas e debate sobre produtividade no home office no setor bancário.
O recente anúncio de demissões em massa atribuídas à “baixa produtividade” reacendeu um debate central no setor bancário: afinal, como medir desempenho em home office? A questão ganhou força após casos envolvendo grandes instituições financeiras que desligaram centenas de funcionários com base em métricas digitais, como tempo de tela e movimentação de teclado.
Segundo dados da Fenaban, mais de 12 mil postos de trabalho bancário foram fechados no Brasil nos últimos três anos, grande parte ligada a reestruturações tecnológicas e mudanças no modelo de trabalho. Com a consolidação do home office e do híbrido, a avaliação de produtividade se tornou um dos pontos mais controversos.
Monitoramento digital e riscos legais
Para a advogada Juliane Moraes, especialista em Direito Trabalhista Bancário, a prática exige cautela:
“Monitorar entregas é legítimo, mas transformar relatórios de atividade digital em critério absoluto de demissão é extremamente arriscado. A produtividade não se mede por cliques, mas por resultados. Se não houver transparência e diálogo prévio, a dispensa pode ser caracterizada como abusiva”, afirma.
Na prática, sindicatos afirmam que os cortes recentes ocorreram sem advertências prévias ou negociação coletiva — o que pode abrir margem para ações judiciais. Além disso, há risco de violação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), já que softwares de monitoramento coletam informações pessoais sensíveis.
Impacto para trabalhadores e empresas
No setor bancário, a pressão é ainda maior. Uma pesquisa do Dieese mostra que mais de 70% dos bancários relatam aumento das cobranças e intensificação do trabalho após a pandemia. A adoção do home office reduziu custos para instituições, mas também trouxe novas responsabilidades jurídicas.
“O trabalhador não perde seus direitos porque está em casa. Pelo contrário: a empresa deve garantir equipamentos adequados, condições de trabalho e critérios objetivos de avaliação. Sem isso, abre-se espaço para passivos trabalhistas milionários”, acrescenta Moraes.
Tendência e futuro
Especialistas apontam que o modelo híbrido tende a se consolidar como o mais viável, equilibrando flexibilidade e controle. Ainda assim, será necessário rever políticas internas de avaliação.
“É hora de construir métricas modernas, que considerem qualidade das entregas, prazos cumpridos e satisfação dos clientes, não apenas tempo de máquina ligada”, reforça a advogada.
Box – O que diz a lei
CLT: permite demissão sem justa causa, mas exige critérios objetivos e não discriminatórios.
LGPD: empresas devem informar como coletam e usam dados pessoais em monitoramento.
Convenções coletivas bancárias: preveem negociação sindical em casos de cortes em massa.
Justiça do Trabalho: tem reconhecido abusos em demissões arbitrárias baseadas apenas em produtividade.
Equilíbrio como palavra-chave
O debate sobre demissões por produtividade no home office não se limita ao setor bancário, mas nele encontra um retrato emblemático: altos índices de digitalização, metas agressivas e forte organização sindical. Para advogados e especialistas, a palavra-chave daqui em diante será equilíbrio — entre resultados e direitos fundamentais dos trabalhadores.