Cultura inclusiva impacta diretamente na capacidade de inovar, reter talentos diversos e aumentar a performance — e já se tornou um diferencial competitivo para o setor de tecnologia.
A equação entre inovação e diversidade não é mais uma hipótese: é uma realidade comprovada por dados. No setor de tecnologia — onde a capacidade de criar soluções disruptivas, escalar negócios e atrair talentos globais é vital — a inclusão se tornou um dos pilares estratégicos para crescimento sustentável e vantagem competitiva.
Não se trata apenas de “fazer o certo” socialmente. Empresas de tecnologia que incorporam diversidade e inclusão em sua cultura colhem benefícios concretos em performance, criatividade, engajamento e reputação. E os números comprovam isso.
Um estudo da Deloitte revelou que organizações com cultura inclusiva têm:
2 vezes mais chances de atingir ou superar metas financeiras
3 vezes mais chances de ter alta performance organizacional
6 vezes mais chances de serem inovadoras e ágeis
8 vezes mais chances de alcançar melhores resultados de negócio
Para o setor de tecnologia — acelerado, competitivo e com déficit de talentos —, esses dados são um alerta valioso: quem não aposta em diversidade agora, corre o risco de perder espaço no futuro.
O desafio do setor de tecnologia com a diversidade
Apesar de ser um dos setores mais modernos do ponto de vista técnico, o mercado tech ainda é tradicional quando se trata de inclusão. A sub-representação de mulheres, pessoas negras, indígenas, trans e PcDs em cargos de liderança e áreas técnicas é evidente, mesmo em startups e scale-ups que se dizem “inovadoras por natureza”.
Além disso, a cultura de alta performance, somada à pressão por entregas e à visão meritocrática muitas vezes distorcida, gera ambientes hostis ou excludentes — mesmo sem intenção.
“Não basta contratar mais mulheres desenvolvedoras ou criar vagas afirmativas para pessoas negras. É preciso garantir um ambiente onde essas pessoas queiram e consigam permanecer, crescer e se desenvolver”, explica Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade e especialista em Diversidade, Inclusão, Equidade e Pertencimento (DIEP). “Incluir é tão importante quanto atrair.”
Dicas práticas para empresas de tecnologia criarem uma cultura diversa e inclusiva
1. Comece com dados — e seja transparente
Mapeie o seu quadro de funcionários: qual o percentual de diversidade por raça, gênero, idade, orientação sexual, deficiência? Onde essas pessoas estão (ou não estão)? Use dados para criar metas concretas e mensuráveis.
2. Revise processos com viés inclusivo
Desde a descrição das vagas até o onboarding, os processos devem ser revisados com foco em equidade. Termos excludentes, exigências desnecessárias (como inglês avançado para funções internas), ou avaliações enviesadas ainda são comuns no setor tech.
3. Treine líderes para a inclusão
Na tecnologia, lideranças técnicas nem sempre são preparadas para lidar com diversidade. É essencial capacitar esses profissionais para atuarem com empatia, escuta ativa e inteligência emocional — habilidades tão importantes quanto saber programar.
4. Valorize a diversidade de pensamento nas squads
Equipes diversas resolvem problemas complexos de forma mais criativa. Use isso a seu favor nos squads de produto, UX, engenharia e inovação. A pluralidade de repertórios melhora a experiência do usuário e reduz vieses em produtos de IA, algoritmos e automações.
5. Aposte em mentorias e trilhas de desenvolvimento para grupos minorizados
Ajude mulheres, pessoas negras e LGBTQIAPN+ a ganharem visibilidade e acesso às mesmas oportunidades de carreira. Sem apoio estrutural, o funil da liderança continuará concentrado em perfis homogêneos.
6. Engaje os fundadores e investidores
Na maior parte das techs, a cultura vem dos fundadores. Sem o compromisso deles, as mudanças são superficiais. Promova conversas, invista em formação e traga indicadores que mostram como a diversidade impacta no valuation e na atratividade da empresa.
Tecnologia e inclusão caminham juntas — ou não caminham
Segundo o IBGE, menos de 1,5% das pessoas com deficiência estão formalmente empregadas no país. Mulheres ainda ocupam apenas 15,9% dos assentos em conselhos administrativos e, nas big techs globais, apenas 5% dos cargos de tecnologia são ocupados por pessoas negras.
Para Cris Kerr, o setor de tecnologia tem o potencial de liderar essa transformação. “O setor é jovem, flexível, digital. Mas para inovar de verdade, precisa refletir a pluralidade do mundo real — dentro do time, nas decisões de negócio e na forma como desenha seus produtos.”
Diversidade é inovação, performance e futuro
Empresas de tecnologia que investem em inclusão não só atraem os melhores talentos, como também constroem produtos mais acessíveis, éticos e escaláveis. Com isso, crescem de forma mais sustentável e se tornam mais relevantes para clientes, investidores e sociedade.
Se sua empresa ainda não começou essa jornada, a hora é agora. O futuro do trabalho será diverso — e o RH e a liderança de tecnologia devem liderar essa mudança.
