Além do surgimento de novas profissões e do crescimento de outras, reforça-se a necessidade de uma requalificação da força de trabalho.
Igor Dsiaducki, Líder de Inovação do SAS Brasil
A inteligência artificial (IA) é tema constante nos debates sobre o futuro do trabalho e, frequentemente, é considerada uma força disruptiva que ameaça empregos e exige adaptações drásticas por parte de profissionais em vários setores. Apesar de parcialmente verdadeira, essa visão ofusca um cenário muito promissor: a IA não apenas transformará o mercado de trabalho, mas também criará oportunidades e impulsionará carreiras existentes, ao mesmo tempo em que reforça a importância das habilidades humanas.
Ou seja, a IA está longe de ser um mero substituto da mão de obra humana – embora, em alguns casos, isso vá acontecer. Mesmo assim, ela deve ser encarada como um catalisador de inovação e crescimento, pois, enquanto algumas funções tradicionais, como operadores de telemarketing e operadores de caixa, podem enfrentar declínio¹, um leque de novas profissões emerge impulsionado pela necessidade de especialistas que compreendam, desenvolvam e implementem soluções baseadas em IA. Um exemplo real é o engenheiro de prompt, um profissional especializado em criar e otimizar as instruções (prompts) que alimentam os modelos de IA. Essa função, que sequer existia há alguns anos, já é fundamental em empresas que buscam extrair o máximo potencial das ferramentas de IA generativa. Áreas de auditoria, por exemplo, até pouco tempo contavam com engenheiros de software e cientistas de dados, mas nos últimos meses adicionaram um novo perfil ao time, contrataram engenheiros de prompt para tornar sua atuação ainda mais estratégica.
A inteligência artificial também impulsionará carreiras já existentes, como a de cientista de dados, que, ao lado dos analistas de dados, ocupa a 11ª posição entre as profissões que mais crescem no mundo, segundo o relatório “Future of Jobs” de 2025 do Fórum Econômico Mundial. Outras profissões relacionadas à tecnologia, como especialistas em Big Data, engenheiros de Fintech, especialistas em IA e machine learning, além de desenvolvedores de software e aplicativos, também estão entre as que mais crescem em termos percentuais, segundo o relatório.
Esse movimento decorre do volume crescente de informações geradas diariamente, que torna a capacidade de analisá-las e interpretá-las cada vez mais importante nas empresas. Nesse contexto, ferramentas como a IA ajudam os profissionais a identificar padrões, prever tendências e tomar decisões mais precisas – tudo isso de forma ágil, com mais produtividade e eficiência.
No entanto, além do surgimento de novas profissões e do crescimento de outras, reforça-se a necessidade de uma requalificação da força de trabalho trazida pelo aumento exponencial do uso da inteligência artificial no mercado corporativo. Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial, até 2030, cerca de 39% das
habilidades atuais dos profissionais se tornarão obsoletas ou precisarão ser aprimoradas. Dentre elas, estão capacidades como pensamento analítico, resiliência, flexibilidade, agilidade, liderança e influência social – características completamente humanas – como habilidades essenciais para o sucesso profissional. A alfabetização tecnológica, a criatividade, a curiosidade e a disposição para aprender continuamente também se tornam ainda mais importantes.
Portanto, fica claro que a IA não elimina a necessidade de habilidades humanas, ela as redefine, ao exigir profissionais cada vez mais capazes de combinar conhecimento técnico com inteligência emocional e capacidade de adaptação. Isso intensifica a necessidade de um líder que transforma a complexidade em clareza e promove conexões genuínas com as pessoas que lidera, além de impactar também na maneira como contratamos, fazendo com que as empresas invistam em processos de recrutamento que valorizem as habilidades técnicas, mas com ainda mais atenção às qualidades humanas que tornam cada profissional único.
Ou seja, quanto mais automatizados se tornam os processos, mais a personalidade e as habilidades interpessoais ganham destaque. A capacidade de se comunicar e construir relacionamentos de forma personalizada se torna um diferencial competitivo em um mercado de trabalho no qual a tecnologia permeia praticamente todos os aspectos. A contradição entre a frieza da tecnologia e a necessidade do fator humano é aparente, mas não insolúvel.
Portanto, é hora de deixarmos de enxergar a IA como uma ameaça existencial ao mercado de trabalho e encará-la como de fato ela é: uma ferramenta capaz de impulsionar o crescimento econômico e a criação de novas oportunidades. Para aproveitar ao máximo esse potencial, é imprescindível que empresas, governos e pessoas invistam em educação, requalificação e desenvolvimento de habilidades que os capacitem para navegar com sucesso nesse novo cenário.
O futuro do trabalho não é sobre tecnologia substituindo humanos, mas sobre os humanos e a tecnologia trabalhando cada vez mais juntos para construir um futuro inovador e melhor para todos.
