Downtime, falhas de segurança e desperdícios em nuvem mostram como a ausência de governança em TI gera prejuízos e compromete a confiança digital.
Por Edsel Simas, Chief Technology Officer da Setrion Software e da Milldesk
Negligenciar a governança de TI cria vulnerabilidades silenciosas que só se revelam em crises. Do ponto de vista operacional, a falta de controles resulta em downtime e interrupções frequentes. Estudos da Gartner estimam que uma hora de indisponibilidade custa, em média, US$ 42 mil, e que empresas sofrem 87 horas de downtime por ano, acumulando perdas anuais de até US$ 3,65 milhões apenas com paradas não planejadas.
Além disso, sem governança, proliferam ineficiências e gastos desnecessários. Cerca de 30% dos custos em nuvem são desperdiçados em recursos ociosos ou superdimensionados quando não há boa gestão — dinheiro que poderia ser reinvestido no negócio. Do lado financeiro, os prejuízos de incidentes de TI podem ser catastróficos e, muitas vezes, subestimados.
Uma violação de dados ou falha de segurança não acarreta apenas custos de remediação, mas também queda de receita e de confiança. No Brasil, o custo médio de um vazamento de dados chega a R$ 6,75 milhões, incluindo multas regulatórias, perda de clientes e paralisação das operações. Em setores como o varejo, em que a confiança do consumidor é fundamental, os ataques já custam em média US$ 3,91 milhões por incidente, um aumento de 18% em 2024 em relação ao ano anterior.
Riscos ocultos
A ausência de uma estrutura sólida de governança em TI abre espaço para falhas recorrentes que comprometem diretamente a eficiência, a segurança e a continuidade das operações. Entre as mais comuns está a fragilidade nos controles de acesso. Ainda é frequente encontrar sistemas críticos protegidos apenas por login e senha simples, sem autenticação multifator ou políticas de segregação de privilégios. Estima-se que mais da metade das empresas ainda dependa exclusivamente de credenciais básicas para acessar aplicações sensíveis, expondo a organização a acessos indevidos e vazamentos.
Outro problema estrutural é a inexistência de SLAs formalizados e de mecanismos eficazes de monitoramento. Sem acordos claros e indicadores consistentes, a TI perde a capacidade de acompanhar prazos, identificar gargalos e manter a previsibilidade dos serviços. Isso ajuda a explicar por que quase metade das empresas com operações distribuídas relata dificuldades em manter os níveis de serviço acordados, o que leva a atrasos, retrabalho e perda de confiança das áreas de negócio.
A má gestão de ativos também é sintoma clássico da falta de governança. Equipamentos e softwares desatualizados, fora de inventário ou sem suporte adequado tornam-se pontos vulneráveis e fontes constantes de falha. Sem processos maduros para controle de versões, aplicação de patches e gestão de ciclo de vida, os riscos se acumulam silenciosamente até se materializarem em incidentes críticos.
Por que a governança precisa ser tratada como prioridade estratégica
Estruturar a governança de TI não significa engessar a área com burocracia. Pelo contrário: trata-se de criar mecanismos que tragam previsibilidade, controle e agilidade para lidar com a complexidade tecnológica. Frameworks como COBIT, ITIL e ISO 38500 ajudam a desenhar esse arcabouço, definindo processos, papéis, indicadores e fluxos de decisão claros. A gestão de mudanças, por exemplo, deixa de depender da memória de um único analista e passa a ser rastreável e auditável.
Da mesma forma, o uso de SLAs, SLIs e SLOs bem definidos permite que a performance dos serviços seja medida e aprimorada continuamente. Uma pesquisa recente mostra que 76% das empresas que adotaram gestão ativa de níveis de serviço reduziram incidentes críticos e aumentaram a disponibilidade de sistemas essenciais. Além disso, ferramentas de automação e observabilidade ajudam a antecipar falhas, tratar desvios antes que se tornem violações e garantir a integridade da operação em tempo real.
Empresas que operam com maturidade em governança digital não apenas reduzem riscos, mas também ampliam sua capacidade de inovar com segurança. Quando a TI é confiável, previsível e auditável, ela deixa de ser percebida como um centro de custo e passa a atuar como aliada da estratégia corporativa. A área consegue demonstrar retorno sobre investimento, alinhar iniciativas aos objetivos do negócio e, principalmente, proteger a operação contra falhas que afetam diretamente o caixa e a reputação da empresa.
Em um cenário em que interrupções tecnológicas podem comprometer milhões e em que a confiança digital tornou-se critério de competitividade, não há mais espaço para improviso. Governança de TI não é um “plus” para empresas avançadas — é um pré-requisito para operar com segurança, eficiência e visão de longo prazo.