Estratégia ou estagnação? Relatório da Thomson Reuters alerta: sem plano de IA, empresas correm risco real de ficarem para trás.
A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma aposta do futuro e passou a ser uma vantagem competitiva do presente. Mas apesar dos ganhos visíveis, muitas empresas ainda caminham sem rumo em sua jornada tecnológica. É o que mostra o relatório global “Future of Professionals 2025”, divulgado pela Thomson Reuters, com a participação de 2.275 profissionais das áreas jurídica, tributária, contábil, de compliance, auditoria e comércio internacional.
Segundo o estudo, 53% dos profissionais já percebem retorno direto ou indireto do uso de IA, principalmente na forma de maior eficiência, produtividade, menor tempo de resposta e redução de erros. No entanto, apenas 22% das empresas possuem uma estratégia formal e visível de IA. O dado revela uma desconexão perigosa: mesmo diante dos benefícios concretos, a maioria das organizações segue adotando a tecnologia de forma improvisada ou sem objetivos claros.
O papel do RH na transformação digital
Para os profissionais de Recursos Humanos, o relatório traz um recado claro: a liderança estratégica da IA dentro das empresas precisa envolver o RH desde o início. O documento afirma que companhias com estratégias bem definidas de IA são:
3,5 vezes mais propensas a obter benefícios críticos com a IA;
2 vezes mais propensas a crescer em receita em função da adoção da tecnologia.
Esses dados reforçam a importância de o RH atuar não apenas como um facilitador, mas como protagonista na implementação da IA, conduzindo o processo de requalificação, redesenho de funções e adoção consciente da tecnologia em todos os níveis da organização.
A pirâmide do sucesso com IA
A pesquisa estrutura a adoção bem-sucedida da IA em quatro camadas principais, que servem como um mapa para o RH orientar sua atuação:
Estratégia: Ter um plano claro e público de adoção da IA é o principal diferencial competitivo.
Liderança: Organizações cujos líderes “dão o exemplo” são 1,7 vezes mais propensas a colher benefícios.
Operações: Reestruturar processos, precificação e funções para maximizar os ganhos da IA.
Usuário individual: Profissionais com objetivos ligados à IA são quase duas vezes mais propensos a gerar resultados.
No Brasil e na América Latina, destaca-se um paradoxo: há uso elevado de IA por profissionais individualmente, mas baixo investimento institucional. Essa disparidade pode gerar riscos, como uso de ferramentas públicas sem segurança adequada ou adoção desordenada, sem integração entre áreas.
O profissional do futuro é agora
A nova geração de profissionais já entende a IA como parte essencial de sua atuação. 88% preferem usar assistentes de IA específicos para sua área de trabalho. E mais: 55% passaram por mudanças significativas em seu cargo no último ano ou esperam por isso em breve.
Porém, 46% relatam lacunas de habilidades em suas equipes, sendo as maiores em tecnologia e dados. Para o RH, isso acende um alerta: sem requalificação contínua e direcionada, o time pode não acompanhar o ritmo da transformação digital.
“A IA não substituirá profissionais, mas profissionais que souberem usar IA substituirão os que não souberem”, resume Steve Hasker, CEO da Thomson Reuters.
Barreiras à adoção: medo da tecnologia ou falta de preparo?
Apesar dos avanços, ainda existem obstáculos. O principal deles é a precisão esperada das ferramentas de IA: 91% dos profissionais exigem que os sistemas sejam mais precisos que humanos, e 41% só os usariam sem revisão se fossem 100% corretos.
Outros desafios apontados incluem:
Falta de orçamento (50%);
Preocupações com segurança de dados (45%);
Preocupações éticas (37%);
Medo de dependência tecnológica que comprometa o desenvolvimento de habilidades (36%).
Esses dados mostram que a resistência à IA não está mais centrada no medo de perder empregos, mas sim no receio de que seu uso indiscriminado prejudique a evolução profissional.
RH como elo entre tecnologia e pessoas
O relatório ressalta que organizações com planos de IA bem estruturados estão construindo “infraestruturas sustentáveis de valor”, enquanto aquelas sem estratégia estão apenas “garimpando pepitas” – ganhando eficiência pontual, mas sem transformação duradoura.
Para o RH, isso significa:
Criar políticas de uso de IA alinhadas à cultura organizacional;
Promover treinamentos formais e experiências práticas com IA;
Mapear funções que podem ser otimizadas;
Desenvolver uma nova mentalidade de trabalho colaborativo homem-máquina.
A requalificação precisa ser multifacetada: combinar treinamentos formais com experimentação prática, aprendizado em grupo e uma cultura de adaptabilidade.
Olhar para frente: o futuro já começou
Segundo o relatório, os profissionais estimam que a IA permitirá uma economia média de 5 horas semanais em 2025, o equivalente a 240 horas por ano — um valor estimado de US$ 19 mil por colaborador. Nos EUA, isso representa um impacto de US$ 32 bilhões ao ano nos setores jurídico, contábil e tributário.
No entanto, o risco está na espera. Organizações que não desenvolverem uma estratégia de IA em até três anos podem estar irremediavelmente atrás de seus concorrentes. Cerca de um terço das empresas corre esse risco.
Conclusão: quem lidera, cresce. Quem espera, perde.
O Future of Professionals 2025 traz um retrato atual e realista do mercado: a IA não é mais diferencial, é necessidade. O RH, como guardião da cultura organizacional e responsável pelo desenvolvimento humano, precisa assumir um papel ativo na transição digital, evitando que a empresa dependa de improvisos ou fique refém de decisões fragmentadas.
A recomendação é clara: adote a IA, sim. Mas com estratégia. Invista em líderes que inspirem a mudança, revise processos, capacite pessoas e transforme a inovação em vantagem competitiva.
O futuro profissional está sendo desenhado agora — e o RH é o arquiteto principal dessa nova realidade.
