Por Cristiano Buss, CEO da Teletex
Crescer é ótimo. Escalar, melhor ainda. Mas quem já passou por isso sabe: crescer dói. No início, tudo é simples — ideias frescas, decisões rápidas, processos leves. De repente, o negócio decola, os times aumentam, as estruturas se multiplicam — e aquilo que era ágil se torna complexo. É nesse ponto que mora o perigo: o sucesso passado começa a parecer um manual de instruções. E a inovação, que antes era natural, vira apenas um tópico de pauta que nunca sai do papel.
A armadilha do sucesso
O sucesso é traiçoeiro. Ele se disfarça de boas práticas, de frases como “sempre fizemos assim” ou “não mexe no que está funcionando”. Mas o que funcionou ontem pode não servir amanhã — especialmente em fases de expansão. Escalar com eficiência exige mais do que repetir fórmulas: exige repensar tudo — estrutura, cultura, tecnologia e, principalmente, pessoas.
É nesse ponto que os executivos de gente e cultura desempenham um papel fundamental. Não há crescimento sustentável sem enxergar os talentos como ativos estratégicos, capazes de antecipar gargalos de liderança e desenhar trilhas de desenvolvimento alinhadas aos próximos ciclos da empresa. Afinal, amadurecer sem preparar as pessoas é como construir um arranha-céu sobre uma fundação rasa.
Inovação como processo, não como evento
À medida que avançamos para novos ciclos de crescimento, a inovação precisa deixar de ser evento e se tornar processo. Cada nova fase demanda uma reinvenção, nem sempre radical, mas contínua — uma nova forma de resolver velhos problemas ou de antecipar os próximos. Essa capacidade de adaptação é o que mantém empresas relevantes ao longo do tempo.
As inovações verdadeiramente transformadoras funcionam em qualquer contexto não porque ignoram as diferenças, mas porque atuam em um nível macro: moldam comportamentos, orientam decisões e inspiram microações. É essa profundidade que permite a uma ideia transcender setores e fronteiras — porque o que é realmente inovador não muda apenas o que fazemos, mas como pensamos e agimos.
Inovar não é opcional
Segundo o IBGE, 68,1% das empresas brasileiras com mais de 100 funcionários inovaram em 2022. Parece um número expressivo, mas revela o oposto: quase um terço ficou parado. E num mundo que muda tão rápido, ficar parado é andar para trás.
Inovar precisa ser parte do cotidiano — não só na tecnologia, mas na cultura, liderança, modelo de trabalho e tomada de decisão.
Por isso, o convite aos líderes é simples: não deixem o sucesso virar zona de conforto. Questionem, testem, escutem. Criem espaços seguros para o erro e para o aprendizado. Porque a verdadeira vantagem competitiva não está em ter acertado uma vez, mas em continuar acertando mesmo depois de errar.
O fôlego da inovação
No fim das contas, inovar é como respirar: não dá para fazer só quando lembramos. Tem que ser contínuo, natural, parte da essência.
E quanto mais crescemos, mais precisamos dessa respiração profunda — para manter o ritmo, o foco e, acima de tudo, a relevância.
