Trabalhar para viver ou viver para trabalhar? Descubra como encontrar equilíbrio entre carreira, saúde mental e qualidade de vida.
Por Francisco Carlos, jornalista e CEO do Mundo RH
Sexta-feira à noite. Você chega em casa arrastado, com o corpo implorando por descanso e a mente tentando se convencer de que valeu a pena. Valeu? Você está morto de cansaço. O happy hour virou um convite indecente. O jantar romântico ficou para depois. Seus filhos já se acostumaram com a sua ausência. E o esporte que você jurava amar… virou memória distante de uma vida que não existe mais.
Tudo isso porque você comprou a ilusão de que ser reconhecido no trabalho é suficiente para justificar a vida que não vive. Fez do crachá a sua identidade, do e-mail corporativo o seu confessionário e da mesa de escritório o seu leito de morte lenta. Reconhecimento? Talvez. Mas e o resto? O que sobra de você quando o computador desliga?
De um lado, há quem diga que “trabalhar para viver” é a resposta. Mas será mesmo? Essa filosofia — herança dos anos 80 — transformou gerações em máquinas de produzir para consumir. Trabalhar para viver virou apenas outra prisão com algemas mais leves: você se convence de que o sacrifício é válido, porque no fim de semana haverá churrasco, cerveja e uma fuga temporária.
De outro, há quem confunda sucesso com viver para o trabalho. Essa é a versão premium da mesma escravidão: gente que chama de propósito aquilo que, na prática, é só vício em desempenho. É acordar com a sensação de estar sempre atrasado, e dormir com o celular debaixo do travesseiro — como se o próximo e-mail fosse a redenção.
E aqui estamos: entre dois mundos igualmente doentes. Estresse, burnout, depressão e solidão já não são sintomas isolados — são a rotina de uma geração que acredita que a vida só faz sentido se tiver crachá, meta e bônus.
Mas pare um segundo. Respire. Você consegue sentir o vazio? Porque ele está aí, entre uma reunião e outra, entre uma meta batida e uma noite mal dormida. O vazio que você tenta preencher com status, com produtividade, com likes no LinkedIn.
A verdade é que não existe fórmula única. Existe apenas a coragem de admitir que talvez você esteja conduzindo sua vida para o abismo da exaustão. E coragem, nesse caso, significa criar dentro de si um novo mundo: um mundo em que trabalhar não seja castigo, nem religião; em que viver não seja apenas sobreviver de segunda a sexta esperando pela sexta à noite.
Um mundo em que você possa dizer: “eu sou mais do que o meu trabalho”.
A pergunta é: você tem coragem de começar a construir esse mundo? Ou vai continuar alimentando a ilusão de que ser produtivo é sinônimo de ser humano?