Por Alsones Balestrin, professor, cofundador da edtech Startup Academy e ex-Secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS.
Milhões de empregos estão sendo substituídos pela inteligência artificial, assim como milhões de novas oportunidades de trabalho serão criadas a partir desta tecnologia exponencial. Esta reconfiguração em curso do mercado torna ainda mais urgente a necessidade de reforma da educação tradicional para um modelo que capacite novos profissionais a aproveitarem o potencial da IA, ao invés de competir com ela.
Um relatório recente do Fórum Econômico Mundial (FEM), publicado em abril, confirma essa visão de que a IA acelera a obsolescência de um modelo de educação em vigor desde o século 19.
Caracterizados por aulas expositivas e avaliações de desempenho, os métodos educacionais predominantes falham ao acompanhar as exigências de um mundo cada vez mais influenciado pela transformação digital. Estes métodos são criticados por serem unidirecionais e passivos, onde os alunos apenas consomem informações sem uma interação ativa.
Para além do conhecimento técnico/teórico, hoje as credenciais profissionais mais demandadas pelo mercado estão centradas em habilidades duráveis, aponta o relatório “Here’s why AI makes traditional education models obsolete”, do FEM .
Um estudo da Deloitte também revela que 92% dos executivos acreditam que habilidades humanas, como liderança e comunicação, serão cada vez mais importantes no futuro do trabalho. Isso destaca a necessidade de um modelo educacional que vá além do simples domínio de conteúdos.
Por isso, é imperativo adotar um modelo fundamentado na ciência do aprendizado e em competências que nos diferenciam (nós humanos) da IA, explorando os verdadeiros potenciais humanos, como pensamento crítico, criatividade, raciocínio ético e inteligência emocional.
É o que muitos especialistas – e eu me incluo – defendem desde antes da chegada do Chat GPT!
Uma pesquisa da National Academy of Sciences dos Estados Unidos endossa a necessidade urgente de transição da aprendizagem passiva para a ativa: alunos submetidos a métodos de aprendizagem ativa apresentaram um desempenho melhor em avaliações do que aqueles expostos a aulas tradicionais.
Conforme dados da UNESCO, 56% dos alunos universitários acreditam que os métodos de ensino tradicionais não os preparam adequadamente para o mercado de trabalho contemporâneo.
O que fica claro é que um modelo baseado em habilidades reestrutura a jornada educacional em torno da maestria de competências, onde os alunos adquirem conhecimentos de forma independente e os aplicam a problemas reais durante as aulas.
Este modelo é mais resiliente ao uso indiscriminado da IA, pois envolve técnicas de aprendizagem ativa que exigem interação e pensamento crítico em tempo real. Além disso, cultiva habilidades que a IA ainda não possui, mas nós humanos sim.
O problema está posto, e me parece unânime o endosso das instituições de ensino e dos formuladores de políticas públicas frente a necessidade de transformação.
Mas, então, como promover a mudança do modelo tradicional de educação?
Para que essa transformação seja efetiva, é crucial que políticas educacionais sejam atualizadas e que haja um investimento contínuo na formação de educadores para que possam integrar essas novas tecnologias de maneira eficaz e ética.
Seguramente o professor ainda não será substituído pelas tecnologias, mas o professor fluente digital, que dominar essas novas ferramentas, substituirá o docente tradicional.
A Educação 4.0 não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para preparar as futuras gerações para os desafios e oportunidades de um mundo cada vez mais digital.
Assim, a revolução da educação não é uma mera possibilidade; é um imperativo que, se bem implementado, pode assegurar que os alunos de hoje se tornem os líderes inovadores de amanhã.
No caso do ensino superior, é preciso adaptar os currículos para que, de forma gradual, contemplem as demandas dessa nova era. Cito alguns impactos que a IA já vem promovendo por algumas instituições de vanguarda.
Design Curricular e Mapeamento de Habilidades: Líderes acadêmicos usam IA para analisar tendências de mercado e demandas da indústria, identificando e sequenciando habilidades necessárias para os alunos. Um estudo da McKinsey indica que a aplicação da IA no design curricular pode reduzir em até 30% o tempo gasto na criação de programas de ensino.
Geração de Conteúdo: Educadores utilizam IA para criar exercícios de aprendizagem ativa e tarefas experimentais, alinhadas com os desafios atuais da indústria. Por exemplo, a plataforma de ensino adaptativo Knewton reportou um aumento de 20% no engajamento dos alunos ao usar IA para personalizar conteúdos de aprendizado.
Aprendizagem Adaptativa e Feedback: A IA fornece feedback em tempo real, permitindo ajustes dinâmicos no método de aprendizado e ajudando na automação da correção de trabalhos. Segundo a Pearson, instituição amplamente conhecida no setor da educação, o uso de sistemas de aprendizagem adaptativa resultou em uma melhoria de 25% nas taxas de retenção dos alunos.
Métricas de Desempenho: A IA monitora com eficácia o modelo baseado em habilidades, rastreando indicadores-chave de desempenho e ajustando continuamente o currículo. Dados da IBM mostram que a aplicação de análises avançadas pode aumentar a precisão na avaliação do aprendizado dos alunos em até 40%.
Conclusão
O modelo educacional tradicional já era inadequado antes da chegada da IA e agora parece ainda mais deficiente. Instituições educacionais que adotarem um modelo centrado em “como pensar” e no desenvolvimento de habilidades duráveis estarão mais preparadas para formar graduados capazes de fazer contribuições significativas à sociedade, utilizando a IA como uma ferramenta complementar e não como uma ameaça.