A inteligência artificial pode organizar, simular e até emocionar, mas ela não sente.
A estreia da nova temporada de Black Mirror, especialmente com o episódio “Eulogy”, reacendeu debates importantes sobre como a tecnologia, e mais especificamente a inteligência artificial, está moldando nossa relação com a memória. A série, conhecida por explorar futuros possíveis, aborda dilemas cada vez mais presentes sobre a forma como estamos terceirizando nossas lembranças à tecnologia. Ao mostrar personagens que revivem experiências com precisão quase cirúrgica, o episódio convida à reflexão sobre os limites entre registrar e viver, entre simular e sentir.
Esse debate se torna ainda mais relevante diante da crescente presença da IA em contextos íntimos e familiares. De álbuns automatizados a vozes sintéticas que reconstroem entes queridos, a tecnologia tem sido usada para eternizar memórias de formas antes inimagináveis. Contudo, isso também gera uma urgência sobre o significado de lembrar e, talvez mais importante, sobre quem ou o que deve ser responsável por guardar nossas memórias. A discussão não é apenas técnica, mas também emocional, ética e identitária.
“A memória não é dado, é identidade. A inteligência artificial pode organizar, simular e até emocionar, mas ela não sente. Nosso compromisso é usar a tecnologia de forma sensível, para garantir que histórias reais continuem vivas — não como réplicas, mas como legados. Não criamos para substituir o vivido, e sim para honrar o que foi vivido. Porque registrar é importante. Mas viver é essencial”, afirma Bruno Paro, CEO da AVA.
